A performance foi o resultado da Oficina de Teatro para Ativistas Sociais, realizada por Elizabeth Firmino e Bartira Fortes, no II Encontro Internacional da FIBRA – Frente Internacional de Brasileiros contra o Golpe no Brasil, que teve lugar no Rosa Luxemburg Stiftung, em Berlim, Alemanha, entre 16 e 18 de agosto de 2019, para a qual se inscreveram em torno a 20 participantes.
A ideia original partiu de Elizabeth Firmino e foi tomando forma, de maneira colaborativa, com Bartira Fortes, e depois, já estruturada como roteiro, com todos os elementos cênicos definidos: vestuário, adereços, máscaras, foi desenvolvida pelos atores. A música, o Funk do Golpe foi proposta por Margo Dalla.
A ideia partia da trilogia de Ésquilo: Prometeu Portador do Fogo, Prometeu Acorrentado e Prometeu Liberto; do poema Ao camarada Dimitroff, quando lutou diante do tribunal fascista em Leipzig, de Bertolt Brecht (1933) e do filme Cabaret, com Liza Minelli, que remetia à estética do cabaré, presente tanto na obra de Brecht, como na Alemanha dos anos 30, marcada pelo surgimento do nazismo; tudo isso adaptados ao contexto de realidade brasileira, ao lawfare e à prisão do ex-presidente Lula. O processo de criação foi colaborativo, bastante estruturado, porém, com espaço para contribuições.
A estética adotada foi o cabaré com seu tom subversivo e debochado, mas também épico, em alusão ao teatro de Brecht, com a mesma personagem narrativa, agora na figura de Narradora/Oceano/Beth Firmino, traz novamente o poema Ao camarada Dimitroff (…). Com a presença do coro, a performance termina com um a libertação do Prometeu, que se casa com o Espírito do Fogo/ Liza Minelli/ Bartira Fortes, em meio a um carnaval/ funk.
Trabalhar com este poema foi fantástico, porque foi como se o passado remetesse ao futuro uma história que estamos vivendo no presente, por isso foi tão importante para mim viajar a Berlim e fazer ali a performance com este poema, que me aproximou do autor. Eu que tinha muita vontade de visitar a Casa Museu Brecht, em Berlim, mas não conhecia nada da cidade, sem saber, fui me hospedar a poucos metros do local, que também está perto do Berliner Ensemble e, para minha surpresa, ele também repousa ali, pois o cemitério fica atrás da Casa Museu Brecht Weigel, no dia 13 de agosto, um dia antes de seu aniversário de morte, ocorrida em 14 de agosto de 1956.
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Considerações finais
Estive ali, visitei a sua casa, a seu túmulo, onde li o poema “Ao Camarada Dimitroff”, traduzido ao `português; fui também ao Berliner Ensemble, passeei pela Praça Brecht, onde tem uma estátua sua. Visitei a parte externa do Reichstag, onde refleti sobre o perigoso momento em que vivemos. Mas, de certa forma, me senti acolhida, como se dialogasse com o tempo.
O Poema adaptado:
AO CAMARADA DIMITROFF, QUANDO LUTOU DIANTE DO TRIBUNAL FASCISTA DE LEIPZIG
(Bertolt Brecht, 1933: poema original, Paulo Cesar Souza (1986): tradução; Beth Firmino, 2019: intervenções e Coro)
Camarada Dimitroff!
Desde o dia em que lutas diante do tribunal fascista
Coro: Fascista!
A voz do comunismo, cercada pelos bandos de matadores e bandidos da SA
Através do ruído dos chicotes e cassetetes
Fala bem alto e nítida
No centro da Alemanha.
Coro: No Brasil
Voz que pode ser ouvida em todas as nações da Europa
Coro: Do mundo
Que através das fronteiras ouvem o que vem
Do escuro, elas mesmas no escuro
Mas também pode ser ouvida
Por todos os explorados e espancados e
Incorrigíveis lutadores
Coro: Lutadores
Na Alemanha.
Coro: No Brasil
Com avareza utilizas, camarada Dimitroff, cada minuto
Que te é dado, e o pequeno espaço que
Ainda é público, utiliza-o
Por todos nós
Coro: Por todos nós
Mal dominando a língua que não é a tua
Sempre advertido aos gritos
Várias vezes arrastado para fora
Enfraquecido com as algemas
Fazes repentinamente as perguntas temidas
Incriminas os criminosos
Coro: Oh!… (murmúrios)
Leva-os a gritar e a te arrastar e assim
Confessar que não têm razão, apenas força
Fogo: Cadê as provas?
Corvos 1: Não precisamos de provas
Corvos 2: Temos convicção
E que podem te matar, mas nunca te vencer
Coro: Jamais
Pois, assim como tu, resistem a essa força
Embora não tão visíveis
Milhares de combatentes, mesmo os
Ensanguentados em suas celas
Que podem ser abatidos
Mas nunca vencidos
Coro: Nunca
Assim como tu, são suspeitos de combater a fome
Coro: Fome
Acurados de revoltas contra os poderosos
Coro: Revoltas
Incriminados por lutar contra a opressão
Coro: Opressão
Convictos
Da mais justa das causas
Vídeo animação
Outro registro do mesmo evento
FORTES, Bartira (2021). Moving between Anthropology, Activism and Art. In: Antroperspektiv. Estocolmo: Blog (consulta: 20/04/2022). <https://antroperspektiv.org/2021/02/18/moving-between-anthropology-activism-and-art/?fbclid=IwAR28MaCA7hO4lE07WZHGx4singcg5mFa4R_Zyv2JPzgRgbuZWOBHs2xUFxs>
Obrigada por seguir este blog!
Beth Firmino